No elevador

"(...)
...

- O que é que se pode fazer com a pessoa de quem mais se gosta?
- Tudo.

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Disse: "Não penses. Olha-me só como quem olha. Não julgues ver o que queres ver. Não penses que vais agarrar o que eu já nem sei encontrar. Isto é uma coisa que passa. Não estive à tua espera até tu apareceres assim à minha frente a dizeres que sim e a dizeres que não, a ocupar os meus olhos, a entreter os meus dedos e uma parte subtil do sonho que todos temos em nós. Não penses. Estou muito cansada. O meu coração está muito pesado. Tenho vários como tu dentro de mim. Continua a falar, a tocar-me, a fazer-me sonhar, mas deixa de pensae, peço-te".

...

- O que querias tu? Nem isso já sabes.
- Porque perguntas? Cala-te.

...

Faz de conta que morri. O telefone está cortado. Não sabes onde estou. Estou tão cansado que desapareci. Não contes a ninguém. Se não puderes aguentar esconde-te. Não voltes. As coisas bonitas já doem bastante ao passar uma vez. Faz de conta que morri.

...

- Porque é que estamos aqui?
- Estamos aqui para nos irmos embora."

Pedro Paixão, Vida de Adulto

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