"(...)Dito isto, confesso que gosto muito do Saramago e gosto muito da Bíblia. Ambos têm idade para merecer o nosso respeito e ambos dizem coisas controversas, umas vezes mais acertadas, outras mais perturbantes - mas sempre folgatadas e intrigantes. Um grande livro, um grande homem, e sobretudo ajudam-nos a viajar. No viajar é que está o ganho. Saramago não é teólogo? Graças a Deus, pois a religião é uma coisa demasiado séria para ficar só entregue a especialistas. O bom José tem a autoridade de quem conviveu com a religião e a linguagem ao longo de toda uma vida. Não será um erudito do texto sagrado, mas pensa pela própria cabeça, sabe ler, leu muito, tem voz própria, e é isso que se espera de um escritor. E querem maior prova da existência de Deus que um ateu, aos 87 anos, esmiuçar o episódio de Caim, o proscrito, resgatando-o como irmão humano?"
Rui Zink, no Metro
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