Caminha sozinho em passo lento, sem pressa de chegar a lugar algum aonde o possam esperar. Uma mão no bolso fundo, a outra que prende um cigarro que se vai consumindo a cada passo, e o frio que lhe gela o nariz e o faz perder-se em pensamentos intensos e perturbadores, como a moral que procura e não encontra num deus que ocasionalmente lhe assoma. Distrai-se de si mesmo para conseguir chegar a si, enquanto fuma. Quando fuma é ele, ele no seu momento e na sua vontade, na sua imensa vontade de existir, ele tão somente. Por isso fuma com devoção, como ritual de poderosa magia que lhe exigisse máxima abstracção, por isso puxa o fumo para dentro de si como se a sorver toda a vivência do mundo, fuma com uma sofreguidão de desespero e uma loucura branca que só ele sabe carregar em si.
Nesse acto solitário de fumar enquanto caminha, inspirando um ar gélido que se mistura com o seu, quente, ele aplaca todo o tormento incompreendido de quem busca e não acha, e quanto mais procura mais se sente longe. Quando liberta o fumo azulado e certo, dá-lhe um prazer confuso assistir àquela dissipação; cores e serpenteios que se perdem para a atmosfera, vagando até desaparecerem. Tal como ele, pensava. Por isso aquela devoção enquanto fuma, de quem ama a vida e furiosamente a quer porque a sabe capaz de lhe escapar por entre os dedos.
Nesse acto solitário de fumar enquanto caminha, inspirando um ar gélido que se mistura com o seu, quente, ele aplaca todo o tormento incompreendido de quem busca e não acha, e quanto mais procura mais se sente longe. Quando liberta o fumo azulado e certo, dá-lhe um prazer confuso assistir àquela dissipação; cores e serpenteios que se perdem para a atmosfera, vagando até desaparecerem. Tal como ele, pensava. Por isso aquela devoção enquanto fuma, de quem ama a vida e furiosamente a quer porque a sabe capaz de lhe escapar por entre os dedos.
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