Lobato Faria

"(...) Estou deitado sobre o lado esquerdo, de olhos fechados, imóvel, mas não estou adormecido nem sequer sonolento. É a minha posição de invocar-te, de poder esvaziar o espírito para receber a tua presença imaginária. Nesta imobilidade tomo muita consciência do meu corpo. O joelho direito pesa-me sobre o esquerdo. Osso com osso faz doer. Questão de dois centímetros, procuro uma almofada de músculo e fico bem. As mãos estão unidas, dedos juntos, palma contra palma, como um suplicante do século catorze. Unidas e entaladas entre a face esquerda e o colchão. Mas os dedos mindinho e anelar da mão direita começam a ficar ligeiramente dormentes. Não quero mexer-me mas tem de ser. Levanto a mão no ar, abro e fecho abro e fecho abro e fecho, pensar-se-ia que te digo adeus. Mas não. Nunca te direi adeus meu amor, e a mão volta para o seu lugar."

A Trança de Inês, Rosa Lobato Faria,
a sempre nossa, hoje mais notada

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