On these lonely nights of ours



"(...) Agora é diferente. Muito diferente. Ao reler a carta que acabou de escrever teve a certeza de que era dirigida a uma pessoa que não conhecia. Pelo menos ainda não conhecia. O amor que nela se expressava com uma intensidade para ela inabitual era por alguém ou alguma coisa desconhecidos. Alguém ou alguma coisa que estava por chegar. Que talvez não chegasse nunca. Em que era preciso confiar sem qualquer razão para isso supor. Um amor fortíssimo latejando por alguém ou alguma coisa que ainda não tinha acontecido, ainda não tinha emergido do nada e do tédio, qualquer coisa de tão avassalador que mudaria não só o que viria a seguir mas transformaria tudo o que até então ela tinha vivido. Uma coisa sem nome. Uma infinita sede de amar, um desejo de amor inconfessável. Um estado perto da loucura foi o que sentiu e temeu e a fez tremer. Sem saber porquê ou como. Alguém ou alguma coisa que a viesse libertar das teias do tempo, do tédio pavoroso, da irrisão do mundo."

Pedro Paixão, Rosa Vermelha em Quarto Escuro

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