E a ti não daria mais do que tudo o que tenho para te dar

Amar-te-ia e aos teus defeitos
nas manhãs de oiro e baunilha
e nas chuvosas e tristes madrugadas
Quando o frio abundante
te gela o peito que eu não conheço.

Nasceria para cuidar de ti
Quando a aguda Dor te ferisse por dentro
e nos tempos da alegria incerta,
quando viesse, assim, breve e efémera
Como sempre ela o é.

Completar-me-ia junto a ti
E a ti não daria mais
do que tudo o que tenho para te dar:
a amizade, o amor, a alma
tudo o mais que te pudesse contentar...

E assim viveríamos esta vida em uníssono
Perenes e imutáveis à passagem do Tempo.
Presentes perante as agruras do Mundo.
Testemunhos confiantes da acção impiedosa da Mudança...

Sophia de Mello Breyner Andersen

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