Friday I'm in love (peer review)

Acometida de uma cumplicidade pouco ortodoxa senão inexplicável, leio o que vai escrevendo sobre o amor e cedo à necessidade de o voltar a pensar. Sempre em vão, pois pensar o amor ou sobre o amor acaba sendo percorrer um círculo perfeito e infinito sem um centro que te traga respostas. Não há respostas ou certezas que te possam ajudar. És apenas tu a atravessar um mundo novo, construído para abrigar um sonho comum. Palavras, apenas palavras assentes numa mesma ignorância partilhada por uma humanidade afinal irmanada num mistério maior que ela. Só se sabe do amor, amando. E, ainda assim, nunca sabes, tu nunca sabes.

Acreditas que o amor é, por definição, viver fora da zona de conforto.
Porque no amor estás perdido mas não temes ou mesmo temendo confias e avanças. No amor fazes o que nunca pensaste fazer, pequenas ou maiores loucuras, que nunca são suficientes para tudo aquilo que te explode no corpo. Pensas pouco, não te importa pensar e não queres saber de sensatez porque mais ninguém está a sentir o que tu sentes. Amar é caminhar numa corda bamba cheio de uma ingénua segurança que te faz rir ao mínimo passo, num delicioso engano. Sabes que vais para a perdição, mas segues rindo. O estado mais próximo da loucura.
Por isso, animada de lirismos piegas e totais, não consegues conceber um amor que não seja todo, um amor racional de pesos e medidas e que se entregue pensativo, esse não é para ti. Para ti amor há-de sempre ser excesso.

Desconfias da linearidade dos conceitos de amor e paixão, de quem espera ver aí alguma nitidez, porque para ti vão sendo momentos que se entrelaçam tantas vezes indistintos, porque quem ama vive apaixonado. E apesar desta fluidez, ou talvez até por causa dela, confunde-te a lógica daqueles que consideram não haver certo ou errado no amor, escapando assim ao peso do erro. Porque amar também é errar e quando julgas que já sabes e que aprendeste, voltas a errar. Amar é esse tentar continuamente. E podes magoar e ser magoado, hesitar em desalento, avançar como gato escaldado e quando o notas, já lá estás de novo, armadilha irresistível que nos apanha a todos desatentos. Não desistes, não desistas.

Não me atrevo em considerações maiores para não cair na tentação de leviandade maior. Quaisquer esclarecimentos podem ser suportados naquele que é dogma de vida: “não sei fingir que amo pouco quando em mim ama tudo”.

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