South of Nowhere

Há um perigo gritante no regresso aos lugares onde foste feliz. Assumes sempre que é uma gaveta trancada a que não tens medo de encarar porque sabes fechada. Arriscas com o peito feito de segurança. Mas depois passaste pela paragem daquele comboio sempre tão alegre e viste uma senhora a olhar-te para o relógio preocupada de ser já tão tarde e tu no teu sorriso terno a responder que não, o relógio é que não estava na hora portuguesa. E depois, já nos leões marinhos e nos golfinhos, o teu fascínio quase pueril, palmas e sorrisos e os olhos muito abertos e cheios de uma luz ainda maior, um encantamento irresistível na felicidade de quem conseguiu receber um beijo molhado com cheiro a peixe.
Nesse regresso há a precipitação do desejo de resgate de um tempo que te escapou, aí o perigo. Aí não apenas saudade, mas saudades também de ti própria. Resgata-te a ti.

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