Alter-ego

Às vezes olhas para trás. Às vezes achas que sim, outras que não. Depende. Depende muito. Do estado do tempo, da música que tocou antes, de teres chegado atrasada ou não, de teres ou não chorado no fim do filme. Fazes depender muito, nunca és só tu, mas sim tu e as tuas circunstâncias. É sempre melhor ter a quem culpar. O que estranhas quando olhas para trás é pensares no início, já não pensas no fim. Não se deve pensar no fim, o fim aconteceu por ser fim. Mas o início. Pensas muito se foi inevitabilidade de facto ou se pura escolha. É tentador chamar-lhe escolha e pensares que tens - tinhas - o controlo. A possibilidade e o como dessa possibilidade. Como, meu deus, como. Ou um porquê que ninguém sabe. Arrebatamento e não mais saber nada. Querer e não mais interessar nada, pois que já eras tudo. O meu reino de vãs glórias por esse ressuscitar de memórias. Antítese, paradoxo, meu paradigma maior. Sonhei-te? Contam-me de aventuras e rio-lhes na cara. Se soubessem.

Morder-te a boca com força enquanto lembro que a abelha morre se deixa o ferrão. Ferrar-te. Os meus dedos na tua boca. Puxar-te o cabelo com vontade. Sempre o cabelo. O impulso do momento e o momento do impulso. Saber-te e saborear-te. Gostar-te. Juízo, juízo.

Talvez o ego e a posse. Vaidade e orgulho. Talvez o diferente e o ousado. Audácia e loucura. E o alter-ego, seguramente o alter-ego. Será isso, a chamar-te um nome serás alter-ego.

Sem comentários: