Please make it stop

Ninguém sabe o que se esconde realmente por debaixo. Eles pensam que já sabem mas não. E vão testando em tentativa-erro dentro da objectividade possível à procura da solução. A solução acima do resto. A solução, acima do cansaço, do esforço, de todas as consequências. Andam todos à procura, nós e eles. O corpo não é esse milagre capaz de ressuscitar, como ele disse. Não se deixar de obedecer, se descontrolar, se tiver vida própria e suicida. O corpo não é essa fonte inesgotável de desejo e prazer, como eles tentam mostrar continuamente. Nele há também a dor, crua, cruel, visível e dolorosa. Auto-imune. A criação mais perfeita e também a menos inteligente, quanto desequilíbrio. Que se confunde, que se perde, incapaz de distinguir o bem do mal e combatendo a salvação como inimigo. Idiota de corpo. E depois um peso desmesurado de que não te consegues livrar, um fardo que não mexe nem deixa andar, não te acompanha, não te acompanha, estás só.

Não sabem o que fazer com aquilo, por isso se apressam a esconder com pensos e ligaduras e tempo, a capacidade do tempo para aguentar e carregar tudo, as desilusões, as saudades, os rancores e também as dores, as da alma e as do corpo, tão fácil e impressionante. Olhas e dirias que o mal, a ter cor, seria uma combinação daquelas – roxo esbatido, rosa pueril, vermelho vivo, cinza profundo e negro insuportável. Cores numa vivacidade de erupções a explodir uma carne que já foi a mais imaculada. Aquele é o meu corpo, aquele é o meu sangue. Porque a abandonaste? Feridas, buracos, chagas, inchaço, monstruosidade, podridão. Olhas-lhe a perna e tens a certeza que aquelas são as cores do mal, que o mal está todo ali reunido. Por isso se apressam a escondê-lo. Porque ninguém suporta ver o mal, porque ninguém sabe lidar com o mal.