Falar à alma

Achava que já não existiam homens assim, como tu. Falaste-me à alma. Sim, é piroso, eu sei, mas foi assim que o senti, eu que até da alma duvido, entre todas as outras dúvidas. Mas tu falaste-me e eu tive a certeza, como nos filmes. E foi assustador porque nunca me senti assim, tão cheia de certeza. É estranho, demasiado estranho. Olhar para ti e conhecer-te os sonhos, os teus e os meus, ouvir-te e reconhecer os ideais, os projectos, a poesia feita filosofia e a filosofia feita poesia. És uma versão melhorada e impossível do homem que pensei para mim, quando miúda, já entre copos e fumos, discutia com a minha melhor amiga os pormenores dos nossos casamentos que nos haveriam de tornar referências para o futuro. Tu és o impossível que me aconteceu.

E seria perfeito se o momento fosse o perfeito. Há sempre algo para nos tramar, porque a perfeição não existe e os filmes são isso mesmo, filmes. Tu precisas de tempo e eu preciso do teu coração esvaziado de mágoas e lembranças. E preciso de acreditar que o tempo de que tu precisas é também o tempo que te aproximará de mim. Preciso que o tempo faça o seu trabalho e baste. Só aí o momento que espero para ti será o momento que quero para nós. 

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