And I wonder if I ever cross your mind

Não digo a ninguém que, por vezes, ele me faz lembrar de ti, como se nisso pudesse haver alguma reprovação vergonhosa. Dizer-te para te admitir. Omitir-te para te apagar. À semelhança de toda a ficção em que me construo, é no espaço porém que tudo se torna palpável. A corporalidade do sonho, fantasiado ou imaginado, faz-se presente sem pressa ou pressão. E ali continuas tu, na minha frente almoçando comigo ou no carro a meu lado, no teu tamanho e na tua largura, o mesmo tipo de gestos em certas ocasiões, o desmontar de uma imagem bem-comportada que ninguém adivinha, chamando chefe ou amigo aos empregados e seduzindo descaradamente as empregadas na minha frente. Comentarias depois um ou outro atributo e eu, com uma sinceridade provocatória, dir-te-ia que loiras não fazem o meu género. Soubesses agora. Ririas? Não creio. E quando o espaço dele me lembra o espaço teu, pergunto-me onde estarás, com quantos filhos, com quanta vida em cima. E por breves instantes vejo-me longe a dar-te uma palmada na cara, brinco na covinha do teu queixo - sempre as covinhas -, chamo-te desgraçado e beijo-te a boca.

Sem comentários: