Fissura

Perguntávamos pelas discussões com verdadeiro e mórbido interesse. Precisávamos muito de uma razão possível e plausível capaz de desculpar a tua ausência e o teu silêncio. Queríamos acreditar que, a te esqueceres de nós, tal só se seria possível porque estarias enclausurada, amedrontada e sob vigília de um animal violento, possessivo e castrador. Era a única explicação. Lógica até. Só sob condições de tortura e coerção se poderia justificar as mudanças ocorridas, de ti connosco e de ti contigo. Por isso perguntávamos muito, por isso queríamos muito saber. Porque precisávamos de encontrar a fissura que iria explicar tudo, aquela que sempre existe em contos de fadas demasiado perfeitos. Precisávamos dessa fissura para não termos de aceitar que estarias mais inteira agora, mesmo sem nós.

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