A Magia do Natal I

Ao contrário de outros Natais, naquela noite ela não dormira ansiosa e pensando em todos os presentes. Naquela noite a menina custou a adormecer, a pensar no significado daquilo tudo e triste porque o presente por que vem esperando há demasiado tempo, o mais importante de todos, tarda em chegar.

Pensava na mancha negra e difusa que estava presente e já não estava, o rosto marcado de rugas, um rasgo muito fino e quase doloroso a toldar-lhe a face, os olhos postos em lugar nenhum, tristeza, solidão, saudade, alguma coisa que não a sua avó ali estava.

Pensava nas prioridades trocadas, na ironia mordaz de certas palavras, na diferença nenhuma entre ir à missa ou ver a missa em casa sentado, na hipocrisia das missas em geral e na sua idiota convicção de pessoa melhor, na dificuldade de fazer durar a socialização, não houvesse televisão e seria uma carga de trabalhos, das perguntas e dos lugares vazios. Olhava-os aos dois e, acima de tudo, pensava que o amor não pode ser uma transacção.

Imediatamente antes de adormecer a menina quis de volta o tempo em que combinava teatrinhos com os primos e distribuía votos de Feliz Natal em conjunto com sugus de ananás. O Pai Natal descia pela chaminé e toda a gente parecia mais feliz.

2 comentários:

I disse...

E depois cresce-se e vê-se coisas que era melhor não ver! Gostei deste mini-conto!

Marisa disse...

Pois.

Mini-conto? Aqui não há dessas coisas sofisticadas. :p Aqui são só palavras mais ou menos soltas, e sempre agarradas a mim.