A tua palavra

Pedes-me uma palavra. Assim, como se bastasse, te bastasse. A imediata, a inconsciente, visceral e única. Uma necessidade primária a combater, precisas dessa palavra para conseguir continuar. Pedes-me como se só aí pudesses descobrir quem és nos outros, quanto os tens ou te tens enganado. Queres uma consonância e um consenso que te assente e traduza, confirmação de quem duvida e já não sabe. E não foste apesar disso tu quem me falou da Clarice? Uma cadeira e duas maçãs, e tu agora com isso.

Incomoda-te a procura demorada, a resposta tardia e a lógica. Tu não queres a lógica, queres a emoção e o impacto profundo de seres a ecoar no tempo. A vertigem do teu tamanho a ressoar. Irrita-te o óbvio, como se fosse mau bastante dizerem-te inteligente ou dedicada, um quase insulto na sua banalidade. Cometes o erro de te quereres medir. Mas ninguém é mensurável, minha querida. És tanto, tanto.

Ainda assim, penso-te. Apercebo-me então que a proximidade não me permite delimitar. Leio catarse e reconheço uma pessoa, compro Sermões Impossíveis e lembro-me de outra. E de ti não consigo. És grande, muito grande. Porque és-me mais, tão mais. Porque o teu nome é-me sorriso, risada, poesia, é moscatel, consciência, loucura, sonho. E bondade, causas, ideais, coragem, determinação, asas e voos, Rachel, coração. O teu nome é-me amizade e é-me sempre.

Mas a fazer-te a vontade, a possível é paixão. De apaixonada e de apaixonante.

(levas Mandela, Kundera e Vargas Llosa. é uma questão de lógica, que queres.)

2 comentários:

I disse...

"Porque o teu nome é-me sorriso, risada, poesia, é moscatel, consciência, loucura, sonho." Esse toque de moscatel... perfeito!

Marisa disse...

:)
Toque de moscatel, ficar tocada, tocar. :)

O moscatel acaba por estar sempre embebido nas minhas amizades mais doces.
Amizade-moscatel: doce q.b.