Coração (meu)

Custa muito acreditar que possa ser verdade, mesmo que só possibilidade. Sempre os outros e tu aqui tão perto, tão real e tão minha. Invento todos os pretextos para não pensar nessa possibilidade, como se só existisse o quanto o conseguires imaginar. Vai correr tudo bem, ok? Vai correr tudo bem e isto vai ser só um susto que nunca vai chegar a acontecer. Por isso não vou chorar, chamar-lhe nomes, pedir-lhe contas de tanta injustiça e dor, tua, dela, nossa. Porque não vai acontecer, ok? Eu não usei aquele nome nem vou usar. Isto és só tu a tropeçares nas escadas como há pouco e nós a rirmos porque eu acabo por colocar sempre as mãos onde não devo, e talvez seja por isso. O resto são invenções que não cabem no nosso vocabulário de quimeras e poesias, mesmo que agora prefiras os misóginos aos poetas. Vai correr tudo bem, e sei que a esta altura já não me suportas por repetir isto, retirando seriedade a assunto tão sério, desprezando-o quase nessa probabilidade incómoda para que, sem atenção, se afaste. Mas vai. Agarro-te a mão, coração meu, e não mais vais cair nas escadas porque as tuas foram feitas para subir.

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