Di,

Tenho tantas saudades tuas. Contigo não precisaria de metáforas idiotas sobre livros, bibliotecas ou bibliotecárias. Ou talvez agora precisasses de uma explicação, não sei. Quando me perguntam por ti digo sempre que estás melhor que eu, com esse distanciamento que tu sabes, só um velho defeito de quem não admite certos sentimentos, ainda estou para entender como o é possível a quem os tem tantos. Estive para te ligar no dia dos namorados mas depois achei que seria estranho demais, não para nós mas para ele. I hope my (your) boyfriend don't mind it. Não é verdade que me lembre só em dias desses, quando me apercebo da imensidão de um sofá, mas tenho medo de nunca mais poder ter um mar ou uma sala de cinema só para nós e é por isso que preciso muito que te lembres. Nunca me esqueci de ti, cantava ele e nós, eu como sempre embevecida de to dizer, eu como sempre vaidosa de os deixar inquietos na certeza de ti. Eles querem mas tu podes, quase como ela disse, mas cheia de espaço entre os gestos e as palavras, um livro que eu não sei ou não devo ler, adiante.

Liguei-te e não atendeste, ligaste e não ouvi, liguei-te e não atendeste, os hábitos que não perdeste e um desgraçado e desconcertado encanto nisso, como quem aí descobre alguém querido que não via há muito. Mente quem fala da distância, devo já ter-te dito antes, não lembro, mas é provável, já que eu e a distância temos algo que nos aproxima, passo o paradoxo ou qualquer outro nome esdrúxulo ou ortodoxo que leve um x pelo meio. A distância distancia e quando entro em noites melancólicas sem fumos e moscatel à vista penso sempre que é muito triste precisar do blogue para que ainda vás sabendo de mim, mesmo que aqui esteja tudo, quem tem olhos que veja e quem não entende que se perca. Bem sei, a culpa também é minha no preguiçoso, ou simplesmente cansado, acto de quem espera e não age, já deveria ter aprendido, já perdi para aprender, podes gritar-mo e eu deixo, mas que queres. Mas tu não tens um blogue e eu queria tanto saber de ti.

E quando te pergunto "quando voltas?" com a mesma pouca vergonha de "quando te volto a ver?" quando te deixava em casa, tu ris porque sabes que gosto de frases com sentido duplo e que não sei ser simples o suficiente ou justa o bastante para não dar a minha facadinha sem contrição ou talvez porque sou ingénua o suficiente ou egoísta o bastante para ainda esperançar que voltes e possamos ir beber martinis, comer magnuns de amêndoas e ouvir a Lara Santos na sua voz sensual a fazer o Posto de Escuta, no largo, como antes. Mas já não há Posto de Escuta e estou certa que terás encontrado outro largo. E devo ficar feliz porque estarás feliz e porque é o mundo a pular e saltar entre as tuas mãos, era a tua vez e não hesitaste e encheste-me de orgulho na tua determinação de quem ainda acredita. O tempo passa e a vida evolui, sempre terá sido e sempre será.

Mas quando voltas? É que tenho muitas saudades tuas e quando falo de ti acabo sempre a ser demasiado sincera e eu não gosto da vulnerabilidade exposta a seco, bem sabes, como quando te abraço tão poucas vezes e sempre te abracei ou como quando gozo dos diminutivos bajuladores e te penso todos. Tenho muitas saudades tuas e quando me meto a pensar seriamente em ti e em nós, minha adorável professora de j's e minha mais que estimada caixinha dos segredos, acabo por escrever demais e por ser lamechas demais e tu sabes que eu não gosto cá dessas mariquices a não ser que sejam muito bem escritas e algo muito bem escrito consegue encher uma única frase e não precisa de tanta escrita. Por isso não tardes que tenho muitas saudades tuas mas agora tenho mesmo de ir dormir e liga-me por favor amanhã.

Mi.

1 comentário:

Razão disse...

Estás à espera de quê?