O afecto tudo desculpa

Alguma gente de quem sinceramente gostamos tem o condão de ser também a que melhor nos consegue irritar. Por que será? Provavelmente mete-se-lhes na cabeça que o afecto tudo desculpa, os calos alheios são pouco sensíveis, a miopia boa razão para ignorar o risco que pisam.
Às vezes parece aquilo um medir de forças, um ridículo espicaçar, mas a criancice nem sempre cai bem. E a paciência pode ser grande, mas tem limites, é corda que por pouco rebenta.
De modo que, à força de desagrados e empurrões, vamos descobrindo que não somos como eles querem, nem eles os adultos que se julgam.

J. Rentes de Carvalho (mais um que me podem oferecer nos anos), no Tempo Contado

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