À semelhança das famílias normais, também todos os casais são perfeitos até que os conheçamos bem. No trailer do Blue Valentine só mostram o início e o poster lindíssimo que tu queres ter não passa de uma triste ilusão memorável, o que vês quase nunca é o que é. Há aquela brilhante frase que ele escreveu tão cheio de certeza, a do final feliz não ser esse lugar encantado mas sim uma contradição. Eu não sou ainda essa boa pessoa que pensas e talvez não tão má quanto julgo. Não bastaria mas penso-o com a demasiada frequência de quem se sente em pecado e não sabe já o acto de contrição redentor. Sou cúmplice e queixosa de mim mesma e não há nisso qualquer ponta de normalidade por onde possa implicar, insana Kainever. Mas aproveitar-me-ei da tua fragilidade como se a soubesse toda, e como mandamento realçarei a minha competência e presença pela sua incompetência e ausência. Remendarei o que houver a ser remendado para que não esqueças que fui eu. Discretamente, elegantemente, traiçoeiramente, serei essa estratega em jogos mentais de persistência e no final não serei capaz de rir. Isto não é ser boa pessoa. Nada é tão bom para versos viscerais e canções tocantes como a dor e o amor, tu és inteligente e sabes. Eu serei apenas uma pobre idiota que um dia talvez venha a ser essa boa pessoa em que acreditas mas que neste momento só te quer adormecer e tocar o cabelo, nada mais.
Descansa. Não penses mais, e digo-o sem aquele gesto de manipular marionetas desta vez. Pausa. Regressa. É quase meia-noite e sobre os teus sapatos novos dizem que parecem de cristal.
(estarei aqui também, talvez da primeira à última, mas tu saberás quanto tem de verdade e isso não exige explicações para responder à sinceridade que te tenho e que tu saberás. tudo aquela questão de prioridades e eu não entro na contagem.)
Sem comentários:
Enviar um comentário