Quando em mim ama tudo

("Não sei fingir que amo pouco quando em mim ama tudo", não te esqueças de voltar a colocar essa frase, a frase, bem visível como um termo e condição essencial para quem chega.)

A franqueza trouxe o lado negro da força e esse, talvez inevitavelmente, trouxe-te a dúvida. Poderia ter dito que sim, que me apaixono todos os dias pelas minhas amigas e é por isso que são minhas amigas e sempre as mais belas e que me envaideço muito por as ter para mim. Poderia ter dito que não, negado em auto-preservação, dizer que sei muito bem o que faço e tudo muito bem calculado, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Em vez disso, fico surpresa, queda, muda, tão ignorante de mim, tão desprevenida daquela conversa e já tão ciente da sua conclusão. 

Quando as palavras me falham, nem de números nem de palavras afinal, roubo sempre aos outros: "não sei fingir que amo pouco quando em mim ama tudo", na esperança de que essas palavras de vida eterna saibam esclarecer tudo o que eu não sei dizer, que te consigam dizer que o meu duche é sempre de água quente e nunca de água morna, mas algumas vezes de água fria. 

Pensei tanta coisa e não te disse nada, o meu olhar a evitar o teu,  e mortifico-me nesse silêncio de consentimento, pensando onde, quando ou porquê. Terás talvez razão, eu raramente a tenho, tanto para tão pouco e por isso calma, e por isso menos, e por isso afastar. Sei que não é gratidão, mas a palavra surge-me recalcada, pedimos sempre, esperas sempre, mas tu chamas preocupação e eu também acredito. Quem sabe seja melhor assim, eu não sei.  Quem sabe também eu só me preocupasse. Quem sabe só existisse luz onde viste o lado negro. Quem sabe seja amizade, aquela mais bela forma de amor, e eu não saiba fingir que amo pouco.

1 comentário:

D. disse...

Ama e .(ponto)