The Cockamouse ou A Paixão Segundo M.S.

Todas as noites o mesmo rastejar, caminhar, correr, que me persegue em agitação. Vem na minha direcção, pronto a morder-me, agarrar-se às pernas, trincar-me a carne, saltar-me à cara, esconder-se no meu cabelo. Cauda, ventosas, pêlos, língua, patas. Cega na escuridão do quarto, umas vezes escondo-me debaixo dos lençóis, noutras avanço em busca do abismo que me há-de devorar em calmas de cerimónia. Está perto, parou do meu lado. Abafo o grito e quedo-me em horror, medo ou nojo, faço-me de morta e deixo de respirar, não me apanhas. Isto não é um sonho.

Demasiadas noites o mesmo sonho: antes a igreja no meio do mar e um buraco de adamastor, grande como a lua, a tentar puxar-me; depois o deserto e um buraco imenso que nasce de repente na areia, a engolir um mar que se nasce e se consome. Um buraco de mar, o mais longe vs o mais fundo. Isto é um sonho.

Está uma osga imensa de um verde tropical no tecto do hall de entrada. O cockamouse existe. Isso, ou estarei simplesmente a entrar naquele apetecível estádio de loucura em que já não sei de mim mas sei de cockamouses.

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