As certezas são menos interessantes

Não sei se foste tu que me encontraste ou eu que te encontrei a ti. Não sei se isso pode alterar o que quer que seja. As relações entre as pessoas são labirintos onde é mais fácil entrar do que sair. Uma parte é um jogo. Um jogo muito sério. Pode ser perigoso. É sempre perigoso. Se não o fosse, não valeria a pena. O perigo de nos perdermos: amar e deixar de amar. Uma jogada e depois outra, sem poder voltar atrás, recomeçar pelo começo. Um jogo que não dominamos, cujas regras não conhecemos de antemão e, por vezes, se vão revelando tarde demais. Jogos sem saída, como becos. É aqui que sou perita. Jogos que ficam por acabar. Há também papéis a desempenhar, como no teatro, e não são sempre os mesmos para cada um dos protagonistas. Um faz de ladrão, o outro de fugitivo. Um faz de cicerone, o outro de estrangeiro que visita pela primeira vez a cidade. Um faz de malandro, o outro de inocente. Um quer seduzir a qualquer preço, o outro quer ser seduzido a qualquer custo. O que me parece decisivo neste jogo de animais inteligentes é não se poder conhecer previamente o desfecho. Se já se conhecesse não seria jogar. Seria fazer batota. É isso que incita o jogo, o faz prolongar e crescer de intensidade: a dúvida, a insuperável dúvida. O amante está constantemente a perguntar: ainda gostas de mim um bocadinho? As certezas são menos interessantes. Pelo menos no jogo do amor. Se calhar em tudo.

Pedro Paixão, a rapariga errada

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