Ocupação dos dias

É um bloqueio que me é invulgar. Sempre sucedeu o contrário, escrever como única forma possível de realizar, escrever para trazer à vida. Contigo, escrevê-lo parece-me verdadeiramente pouco, redundante, quase artificial. Não sei explicar, o melhor nunca se sabe e raras vezes nos aproximamos da sua significância imensa, imersos que estamos a tentar desvendar tudo porque tememos a indefinição embora as certezas sejam só certezas. A questão é, aquela, a fundamental, talvez a única, é que eu te quero dizer tudo. Tudo. Mas temo que os olhos não sejam bastante, que a minha boca se cerre na ilusão do desinteresse do mundo, que, muda, as minhas palavras não saibam traduzir o que levo dentro. Por isso preciso tanto de te abraçar com força, todo o teu corpo no encontro do meu, os teus ossos nos meus ossos, a tua boca na minha boca, os meus olhos nos teus olhos, nós. Fundirem-se os medos, as histórias, as canções, as memórias, troçando em vivo riso sobre o princípio da impenetrabilidade da matéria. Por isso a demora no beijo e a insistência no toque, a urgência no corpo e a serenidade dos momentos. Tudo para que eu te consiga dizer tudo. Por isso deves por favor desculpar-me o não conseguir escrever-te. É que prefiro respirar-te, prefiro viver-te, prefiro amar-te.

2 comentários:

Papoila e Orquídea disse...

Lindo! *

Marisa disse...

:)
Obrigada, queridas*
[], aquele abraço.