Quando o abrigo é seguro, a tempestade é boa*

O silêncio pode dizer mais. Quase sempre é assim, e por isso a gravidade e o perigo do silêncio, por isso tantas vezes a necessidade de fuga e o embaraço, por isso o barulho ausente de sentido. Não disseram nada, pelo menos nada que chegasse a ser digno daqui ficar registado mas, pelo contrário, calaram, e aí o cerne desta questão. Teria sido melhor se falassem.

Sei que não fazem por mal, cumprem com zelo e diligência a sua função, abrem caminho, destapam a ferida porque uma ferida exposta cicatriza melhor. São boas amigas, as melhores. Faria o mesmo no meu jeito desajeitado e bruto de ser que não espanta porém quem conhece. Não disseram nada mas olharam-me com aquele olhar de incredulidade, tão pouco tempo e duas vezes já, de quem não encontra as pernas para andar, de quem, perdida a esperança, condena à partida, pois que estarão os resultados à vista.

Perdoo-lhes a incredulidade como se fosse uma ignorância de nós, que nos sabemos e nos bastamos nessa certeza reconciliadora. Quando o abrigo é seguro, a tempestade é boa.

* Gonçalo M. Tavares

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