22. Evita psiquiatras e parceiros sexuais com ambições literárias.
23. Tudo o que se altera num ápice com um "find" e "replace" nunca definirá um estilo.
24. Não contornes as limitações gramaticais com expressões seguras mas que sabes não serem as ideais.
25. [com MV] As orações subordinadas tendem a insubordinar o leitor.
26. Não uses os parênteses e os travessões indiscriminadamente. Inventa um critério qualquer. Eu uso os parênteses para adicionar factos e os travessões para fazer um comentário, mas deves inventar o teu sistema. O que conta é a coerência, mesmo que decidas usar o travessão para tudo, excepto referências a um amor passado, que ficariam sempre entre parênteses, a lembrar um casulo.
27. Parafraseando Miguel Esteves Cardoso, as enumerações devem ser absolutamente sinceras. A honestidade não fica assegurada com o recurso a processos de escrita automática.
28. Um curso de solfejo e a prática de um instrumento são muito mais úteis do que um curso de escrita criativa. A Literatura é uma eterna adolescente rebelde, misteriosa e possivelmente estúpida, enquanto a Música é a sua irmã bem comportada, sem ponta de mistério, que vai de certeza entrar para Medicina. É esta chata que vale a pena estudar; a sua mana não dá uma boa sebenta, serve apenas para o convívio. Isto porque a Música simplificou muito melhor do que a Literatura as dimensões horizontal (melodia e ritmo) e vertical (harmonia), vivendo bem com a redução da sua transcendência a uma partitura e regras claras.
29. Nunca mintas a um revisor, por maior que seja o teu desejo de lhe dizer que ele não é apenas peça de uma complexa engrenagem assente no princípio da redundância.
30. A principal dificuldade da crónica não é o remate sonante, mas a sua justificação prévia.
31. A musa não deve ser mais do que uma lebre.
32. A terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo "ser", isto é, justamente o "é", é um rasgão na trama acústica da prosa e, por isso, é sempre de evitar.
33. O uso indiscriminado do condicional e do pretérito imperfeito induz no leitor uma espécie de enjoo, que apenas deve ser explorado com total conhecimento das possíveis implicações.
34. Não uses o ponto-e-vírgula até te sentires devidamente preparado.
35. Nunca interpeles o leitor.
36. Define o número máximo de pontos de exclamação que pretendes usar em vida e nunca percas essa contagem.
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