Entre a capa da Exame e os livros da Fnac

Somos sempre aquele intervalo entre o sonho e a possibilidade, a noção difusa dos extremos mas a certeza de que ainda não estamos lá, faltará muito, falta sempre. Ainda não sabes o quando, o como ou até o se, mas a recorrência do pensamento deixa-te numa inquietação de vontade, a mudança a tentar-te, o amor à arte ou o pão, ainda que nem só de pão viva o homem, ainda que seja loucura e a vida não esteja para tentativas. Toda a escolha exige coragem, aquele tomar nas mãos o teu próprio destino, fazer uma vida-a-vida e não o dia-a-dia de todos. Mas não sabes, uns dias cheios de certeza, outros a utilidade que não é clara, uns capa da Exame, outros vendedora na Fnac, o palco ou a audiência, a visibilidade ou a descrição. Talvez apenas o cansaço, talvez a qualidade do fato. Hoje não sei.

Isto que ela, sempre cheia daquela mestria, escreve: "dizer-lhes que aquele não é o nosso mundo, que estamos ali por necessidade, é o destino truculento e zombeteiro que nos obriga ao cansaço do trabalho e ao aborrecimento da vida amanuense."

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