Pão-por-deus

Fazem o sinal da cruz à pressa para não perderem mais tempo, ouvindo os raspanetes surdos da velha catequista, ela cada vez mais surda também. Levam sacos do pão, outros de plástico, e seguem em bando, os putos, gritando em viva voz e com o futuro todo a reclamar ainda. A aldeia tornada criança, e eu ali no meio, na varanda a assistir ou nas escadas à espera, distribuindo chocolates, rebuçados e chupa-chupas a quem não sei mais. Ainda assim, há a referência ou o sangue, a ligeira percepção que, de algum modo, serão primos e primas. Ainda assim, aqueles são meus. Aquela é a casa, aldeia nossa.

Sem comentários: