Reservado o direito de admissão

Tenho cada vez menos paciência para algum tipo de pessoas, deve ser ainda da idade, e espero que a vá conquistando com o tempo.

Há alturas em que devemos calar e outras em que devemos mas não conseguimos, sob pena de parecermos concordantes e sob prejuízo de dada opinião nos ficar a queimar por dentro, revolvendo o que ainda resta. O insulto seria tão rápido e fácil quanto ignorar, danos colaterais todos os têm e há fins que justificam os meios, depende da urgência e de quem são os fins. Seria bem mais fácil ignorar dizia, e atestam até que ignorar é um sinal de superioridade, não ceder parte fraca, não alimentar mais a discussão se não lhe for previsível um fim onde se possa aquietar em equilíbrio. Mas, problema meu que nem sequer sou de esquerda e que abuso da ironia para o escrever, acredito que todas as injustiças devem ser denunciadas. E tenho para mim e para quem me quiser ler de boa fé - ainda há disso no mundo e tem-me ocupado os dias - que o estereótipo e o pré-conceito são injustiças demasiado graves para serem aqui deixadas à mercê de comentários mais ou menos levianos, de sim ou não, a favor ou contra. Isto não é o Prós e Contras e este blogue não é nada disso.

Este blogue é aberto, público, até aqui não moderado, e sei bem os riscos dessa posição. Aguento-me bem com eles. É verdade que o blogue é mais fácil, tudo o que seja escrito não exige o imediatismo do presente, pondera-se melhor a reflexão e argumentação.

Cedi ainda à tentação de me justificar, de mostrar toda e qualquer fotografia capaz de atestar aos caríssimos anónimos a minha feminilidade, que esta não se coaduna com rótulos prontos-a-levar, tenho os vestidos curtos, o cabelo longo, os saltos altos, brincos e rímel em dias de festa, e todas essas coisas que desenham a teoria da imagem de uma mulher para o comprovar. Discreta o suficiente, tenho-me em boa conta e em boa figura, muito ciente do que é ser mulher, com o IMC adequado, peso, altura e curvas socialmente autorizadas, além do sorriso corrigido com recurso à ortodontia como mandam os tempos modernos e os endividamentos familiares. Mas, para quê tudo isso? Este blogue tem uma história e valores, esta pessoa assina com o nome real e, sobre fotografias, nunca foi prática aqui, embora existam umas cinco ou seis, é saber procurar se a curiosidade for maior.

Ela, que não se revê em marchas nem é activista, e não devendo explicações a ninguém, revela - oh, surpresa das surpresas, ela é humana (!) - que rejeitou e foi rejeitada, amou e foi amada, magoou e foi magoada. Confesso que vivi, como escreveria o outro.

Sou tudo o que está aqui e orgulhosamente o que está aqui, e pouco me importam os outros, porém, hoje acordei em introspecção, o Natal e o fim de ano, tão propícios a balanços, hão de ter a sua quota-parte neste texto. Tenho os meus telhados de vidro, os meus fracassos ou pontos a melhorar, termo em desuso e trocado por “oportunidades de melhoria ou crescimento” por arrasto dos coachings pessoais que por aí alastram agora. Sou ainda e também a cobarde que nem sempre responde a comentários grosseiros, uns mais sérios que outros, divertem-se assim, e a cultura pode ser um monstro danado. Sou ainda e também aquela que demasiadas vezes cala e consente, nós contra eles, nós todos certinhos e enfileirados na linha de produção em massa, intocáveis nos nossos usos e costumes, uns mais a/i/morais que outros. Hoje, desta vez, será diferente. Neste blogue não se toleram tolerâncias e muito menos faltas de respeito. Está por isso doravante reservado o direito de admissão.