Long version

Amar e ser amada, tudo se resume ao equilíbrio sereno entre estas duas equações. Nunca menti, afinal, quando te respondia "amo-te mais". 

Dói-me não conseguir entender, dói-me não conseguir reparar, fazer nada a respeito. Fazemos planos, estamos visivelmente felizes, acreditamos que desta vez é que é, esta é a tal, esta é a minha vez, e depois, inesperadamente, tudo acaba. E vamos rever todos os momentos, cheios de urgência em descobrir onde falhámos, em encontrar os sinais de alarme que não percebemos antes. E já é tão tarde, tão inevitável, tão irreparável, que só resta tentar aceitar. Esgotar todas as forças até aceitar, chorar todas as lágrimas até as secar e ficarmos com os olhos inchados, lembrar até aceitar. O sofrimento é ideal para as auto-biografias.

Ele tem razão quando disse que o pior não é tudo o que sonhámos e não fizemos, o que magoa é termos tido algo e agora já não termos. O que magoa é como é que pessoas que se eram tudo, com o tempo, passam a ser nada. Como é que ontem eu era ainda o amor mais lindo da tua vida e agora sou um engano, como é que um dia nos demos e agora não nos sabemos, e as palavras doces dão lugar às palavras secas. O que entristece é o nunca mais. Isso é que eu não aceito e isso é porém o que se vê todos os dias.

Os amigos - que felicidade tê-los assim como são - insistem muito para me manter ocupada, para me distrair, para não ficar a remoer a lembrança, que agora importa é esquecer. Mas o que eu quero é lembrar-nos, é essencial que eu te lembre para que te consiga esquecer, e o grande sofrimento glorifica o amor que houve. O luto é essencial para a aceitação.
Pelo caminho cedemos, começas a duvidar de tudo e de todos, a acreditar que nunca mais te vais conseguir apaixonar por alguém, o tempo a passar e só tu não te resolves, a protestar porquê tu, a usar palavras como merecimento e justiça, e o caminho será longo.

Pensei hoje que, quem sabe, talvez tenha sido uma praga. Precisamos muito de tentar justificar aquilo que não entendemos, como se faz com deus. Lembras-te de te ter contado daquele aniversário a que fui e a rapariga pôs-se a dizer-me para que eu aproveitasse bem porque acaba sempre e depois, com sorte, fica o respeito e algum carinho? Pensei nisso. Pensei também naquele mito da crise dos sete meses. Pensei que fosse só um sonho mau. Queria ter acordado e tudo estar bem, como antes. Na tua atitude nobre, sincera, lembraste-me que não, hoje igual a ontem e igual a amanhã, acabou, não é o bastante. 

Não te posso e não te quero convencer, tu saberás o que é o amor. Sei que também não é fácil para ti, tenho a certeza que também não estás no teu melhor. Acredito que não vais responder, talvez derrames uma lágrima, que não mudará nada. Não te posso e não te quero fazer de má da história. Não mais vou escrever sobre este assunto, o sofrimento deve ser recatado. Todos os dias, a toda a hora, em todo o lugar no mundo, há relações que terminam. Esta é só mais uma. Esta foi a nossa. Isto ainda podia acabar bem.

(sinto tanto a tua falta.)

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