Como é que eu posso dizer isto sem magoar as pessoas?
É que todas estas abstracções, todo este conhecimento, como é que eu posso dizer isto sem magoar as pessoas? É que tudo isto não serve para rigorosamente nada. Nada. Nada. Nada. Porque não adianta saber o que pensava o amigo Søren do casamento, não adianta conhecer a ideia de clareira, não adianta saber que a mulher é um elemento da terra e que tem uma força centrípeta que atrai tudo para si, não adianta dominar ideias para, enfim, controlar o mundo. Isto serve, quanto muito, para nos sentirmos menos mal connosco próprios. Dá-nos uma sensação de pertença, algum chão, um grupo de amigos. Chateia-me, em geral, que a literatura não tenha um poder curativo. Chateia-me, em geral, que tudo quanto vai ao cérebro, seja tendencialmente transitório (a menos que seja um cancro, um derrame, uma seta). Chateia-me saber que não é sabendo que vou lá e, mesmo assim, só sei saber. E isto nem quer dizer que eu saiba muito, apenas que sei o que sei, e que isso não basta.
no Colectivo Chato
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