Não sei se seria diferente se soubesses. Há um mundo entre o que o coração quer e o que a razão sabe, pontes que não passamos por vários motivos. Tu perguntaste com a tua voz cheia de riso e de sumol limão e eu não te menti, porque não consigo, mas omiti-te, porque posso. Há coisas que dizemos para não magoar e há outras que não dizemos para não magoar. Às vezes os outros, às vezes a nós, há sempre alguém. Deveria ser um mandamento como os outros, bem mais desinteressantes - não magoarás quem carregas no peito. E o mundo seria melhor, talvez.
Talvez nem o notasses e estou agora a fazer disso alarido, é sempre assim, denuncio-me sempre. O teu olhar, tão cheio de verdade, só vê o bem, era também por isso. Apesar do que dizem por aí, é preciso muito para se conseguir magoar alguém. Relevância, proximidade, probabilidade, impacto. Talvez nem fosse diferente se o soubesses. O tempo, tal como a idade, tal como a cara dos bandidos, um nome ou as fases da lua, contou-me ela, significa muito pouco, é preciso ganhar-se o que se é, ser-se o que se é.
Ela disse que eu não deveria esquecer que sou boa pessoa.
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