Paul et Emmanuelle

Chorou tanto que o acordou, mesmo que estivessem em divisões diferentes da casa. Parece que uma dor tanto atravessa paredes como outros lugares mais distantes e sem tijolo, cimento e areia que a contenha. Disse-lhe que não aguentava mais, tinha de deixá-lo. Disse-lhe que o problema não era ele mas ela, nos filmes como na vida real. Disse-lhe que não podia mais lutar contra o seu próprio corpo, que não podia continuar a aprisionar os seus impulsos mais genuínos, que era uma mulher que queria homens, tão natural como a sua própria sede. Ele calou o choro que fez seu, nada disse e, ainda com o robe vestido, chinelos de quarto, bateu a porta como quem abandona uma história, ninguém sabe o que lhe vai na cabeça, território nem dele. Caminhou, caminhou, caminhou. Subiu na direcção do rio, viu os homens que recolhiam o lixo, viu sem-abrigo dormindo, viu putas e bêbados, viu a noite e o amanhecer enquanto subia o rio. Quando chegou a casa era outro dia.

Disse-lhe que aceitava, que ela podia ir aonde quisesse, que ele aguentava, que era pior ficar sem ela. E ela sorriu, foi onde quis, fez o que quis. Mas ainda que seduzisse a todos, que ruborizasse e aceitasse todos os assédios, só ia para a cama com um. 

Dizia a moral, ao menos nas histórias e nos filmes, que a liberdade ancorou-lhe o desejo.

(foi um filme bonito, saí a sorrir.)

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