E ele, com voz de
filho, voz de
amante: Pilar, o que digo? A determinação de amar o amor mais que
atingida. Na verdade, todo este parágrafo é inútil já que cabe numa
imagem do filme que decorre enquanto é escrita A VIAGEM DO ELEFANTE.
Ele está à secretária. Computador diante de si. Para alcançar qualquer
coisa, ela não o rodeia, antes estende o corpo sobre ele que aproveita
para roçar o rosto no corpo dela, mais umas festas mansas e uma palmada
no rabiosque.
E diante da interpretação de João Afonso, que tão presente deixou o tio Zeca Afonso, ouvi-lo dizer: talvez a morte não exista.
Quem ama não pode dar-se ao luxo de morrer.
Quando já não se consegue acreditar em nada daquilo em que se acreditou,
se aspirou, resolve Miguel Gonçalves Mendes mostrá-lo, porque existe,
num documentário, saeta até ao céu, porque existe uma só carne que a
morte não separa. E isto para mim é prova bastante de Deus ainda que não
creia Nele.
Eugénia de Vasconcellos, no Cabeça de Cão
(negrito meu)
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