É possível que a vida se esgote entre um dia e outro. Bom, não a vida, mas algo muito perto dela. Quando dermos por isso já não magoa. Tenho pensado menos em ti, embora pense todos os dias em ti. É assim que sei que ainda tenho coração. És crónica em mim. Se me perguntarem o que aconteceu não saberei responder. Direi que não me apetece falar disso, como aprendi contigo. It happens, direi. Felizmente não perguntam.
Ainda que procure todas as razões nunca há uma razão, não vale por isso a pena procurar mais. O caminho é em frente mesmo que agora tudo seja pousado, foste tu quem mo disse um dia. Voltamos ao ponto do início. Oiço apenas músicas alegres ou, quando as há tristes, oiço apenas aquelas que sei aguentar, já não me tento. Quando não escreves pergunto-me por ti e se estarás bem, o que andarás a fazer. É importante que estejas bem, é o mais importante.
Vejo as temperaturas aí e apetece-me caminhar contigo sobre o rio como se tudo pudéssemos ainda e os nossos olhos fossem novos. Quero ser eu dentro de ti. Dá-me a mão como quem não espera nada e por isso sente tudo. Não vamos falar do passado que nos dói nem pensar no futuro que é sempre incerto. Sabe apenas que é possível, o futuro. Dá-me a mão e vamos caminhar sem nenhum destino que nos chame, caminharemos sem medo que o gelo se quebre sob os nossos pés, caminharemos até que o dia seja dia. Vem.
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