Nunca estive mais perto de ninguém.

Estou deitado e o tempo passa sobre mim em crescentes lençóis
e durmo e nem ambiciono a posição da árvore
Aceito tudo e sou mais branco cada vez
que o sol se põe sobre a cansada imensidão do rosto
exposto ao ondular do trigo e à velha nova água
Sou pedra ou esquecimento? Que serei?
Alguém responderá. Mas quem? Ou quando?
Estou assim entretanto. O meu modo de ser
é todo este não ser de perguntar e responder
Sou uma enorme dúvida estendida da cabeça aos pés
Nem sei já se nasci - ou quando - ou se morri
Não sou todo este ser que finalmente de si mesmo se cansou
E abro muitas bocas. Quem à minha volta?
Nunca estive mais perto de ninguém.

Ruy Belo,
o poeta da minha praia

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