Nenhum caminho será longo.

Estou distraída a ler a contra-capa de um livro e aborda-me uma mulher, como se me visse todos os dias. Pergunta-me se acho que vale a pena comprar uma enciclopédia para saber como fazer para os olhos secos, para que os olhos não sequem, se não encontrará no computador sobre isso também. Já leu que é preciso cuidado com a luz do sol, que é de evitar o vento, que são recomendáveis os óculos escuros, mas a ela estão-lhe sempre os olhos secos e quer agora saber se acho que vale a pena comprar uma enciclopédia só para isso. Respondo-lhe que não, que hoje em dia está tudo na Internet e que com facilidade encontrará sobre isso por lá. Agradece-me.

Depois retorna e pergunta se já vi algum livro que goste pela feira. Mostro-lhe ainda o livro de que lia a contra-capa e digo-lhe que é de um padre poeta, que é muito bom. Pergunta-me então se já li O segredo e quando respondo que já mas que não faz o meu estilo, pergunta-me se já li outro com um qualquer nome a puxar à religião ou ao esoterismo. Quando respondo que não, devolve-me um "pensava que sim, pensava que já tivesse lido", e sou obrigada a rir-me com o comentário. Agradece-me e desaparece por mais uns segundos.

Retorna ainda: "e quando está triste, que livro é que lê? que livro é que tem na mesa-de-cabeceira?". Conto-lhe que nenhum, que saio de casa, olho para o mundo e para as pessoas e isso basta, ajuda a relativizar e a lembrar que estamos vivos. Depois levanta mais a cabeça e fixa o olhar num qualquer ponto invisível, como se pensativa, e "também é verdade, obrigadinha". 

Haja loucos no mundo para nos entendermos.

Sem comentários: