Nunca te olharei por dentro.

No resto da noite sobra esta sensação tão nítida de não ter conseguido dizer nada misturada com um álcool estrangeiro e com aquela certeza de que só assim poderia ser, nada mais que houvesse a dizer, nada mais que não tenha já sido dito. Eventualmente, o peito. Ser tudo repetido e tudo inaudito, não haver nada de novo mas também não ser possível seguir calada, era assim o problema que inventei. Escrevi um livro que não existe para uma pessoa que não existe, como no poema daquele meu mais querido quando fala do que dói às aves. Pudesse eu calar o acessório, toda a escrita que para aqui vai, e dizer numa palavra o essencial sem causar mais dano àquela memória antiga de nós. Ainda tinha tanto para aprender contigo sobre o bom uso das palavras, de como a poesia só pode desabar no corpo, secreta e sem outros espectadores, o espaço bem guardado para as lembranças onde o tempo é bondoso. Diz-me que há um sítio onde nos guardaste, invisível.

A vida está aí e há tantos caminhos, não esqueço. É urgente que continuemos e nem sei bem por que levanto ainda o que está pousado. Toda a gente sabe que não resulta bem fazer misturas. Quero-te feliz, já te disse? Aquelas palavras melodramáticas que teimo em exagerar embora procure cada vez com mais aprumo tornar-me leve, isto é só outra coisa, momento pontual que deve ser ignorado, e já está quase a passar, não digas que tenho problemas. Um dia deixo esta ideia idiota de escrever tudo e faço-me à vida como ela deve ser, talvez já hoje. Mas antes diz-me que há um sítio dentro de ti, ignorante do mundo, onde as minhas palavras dormem.

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