Vou adiando até ao limite todas as despedidas com medo de nunca mais sentir a mesma coisa. No café, ao final da tarde, continuam as mesmas pessoas de sempre, apesar de há quase um mês não aqui ter vindo: o homem magrinho de barba rala que escolhe sempre um dos sofás e fica até ao fim com o portátil no colo e os fones nos ouvidos; o preto divorciado, com o tom de voz monocórdico, e que tem o café como ponto de troca - é aqui que ele devolve o filho à ex-mulher, uma gordinha de óculos que o trocou por alguém mais enérgico ou mesmo por uma mulher, ou que o recebe por algumas horas até ao encontro seguinte; por vezes, o miúdo chora; a loira que acabou agora mesmo de chegar e que, poderia jurar, já vi na televisão embora não saiba onde, muito magrinha e sempre de roupas muito justas ou muito excêntricas, a pintura exagerada, os brincos enormes, o british accent como das séries; vem sempre com a mãe e com o namorado, sempre os três, e sempre ao final da tarde; e há o cowboy, com cara de cowboy, barba de cowbow, chapéu de cowboy, lenço de cowboy e botas de cowboy, a postura firme, o aspecto másculo, às vezes vem com o namorado. Encontramo-nos todos aqui mas acredito que eles prefiram o empregado árabe à empregada espanhola. Lá fora, a pedinte da big issue no seu colete vermelho, que cumprimento sempre e que me devolve sempre o sorriso nos seus dentes de ouro. Ao lado a montra da livraria, sempre tão bonita, dedicada a um tema ou a uma cor, sempre tão bonita. A minha rua ladeada de árvores onde os pássaros amanhecem mais cedo, ansiosos de luz. A minha rua é a mais fixe de todas. E até mesmo o metro e toda a gente a cantar em coro o "i just call to say i love you" no autocarro de madrugada. Até mesmo o centro cheio de turistas e a rapidez dos dias ou demorar 1h para ir a seguir jantar ao outro lado. Casa são estas pessoas desconhecidas com que me vou cruzando todos os dias e sei que vou ter saudades disto.
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