A minha avó diz "bicho ruim".

Falavam das palavras como se as pudesse haver maiores e menores, umas de trigo e outras de joio, umas que servissem a umas bocas mas não a outras. Confunde-me e irrita-me a distinção que tanta gente coloca em palavras que são muitas vezes sinónimas, como se as houvesse pejorativas e não partissem afinal, todas e cada uma, de uma significância que é partilhada e de base objectiva na língua, pesem embora as subjectividades que cada um lhes queira acrescentar depois. Entendo pouco o pudor de dizer-se de alguém "burro", "preto", "deficiente" ou "gordo", por exemplo, substituindo por "de aprendizagem difícil", "de cor escura", "incapacitado" ou "cheínho". A mesma coisa para "controlo", porque controlar os trabalhadores é uma coisa muito má, "pena", porque pena é uma coisa muito triste de se sentir por alguém e "medo", porque hoje em dia ninguém tem medo mas "receio", palavra mais suave ao ouvidos e mais suportável às nossas fracas coragens de usar as palavras. Sem medo. 

(orgulho-me do que aprendo contigo.)

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