Não há nada pior do que o fastio de se ser sensato.

Olho o boneco vodu que me serve de porta-chaves, com a sua boca selada, os olhos em botão e o coração nas mãos, lembro-me onde e das circunstâncias em que o comprei, e penso em ti. Depois, neste momento, quando regresso ao portátil e tento recriar os mesmos pensamentos, fixo-me naquelas palavras sem saber como avançar. Penso em ti, estas. Agora que sabemos bem o que é de ser e o que não é de ser, quando o tempo, sempre mais experiente que nós, fez acontecer outras pessoas, outros sentimentos e outras vidas, é preciso regressar àquele assunto interdito para agradecer-te.

Envaideço-me sempre que nos tomam por casal e estou certa de sentir que é este outro afecto recíproco, tantas as vezes que já sucedeu e ainda que o teu ex-namorado dissesse um dia que nós haveríamos de ser um casal engraçado. Não é também há toa que não me envergonho de dizer que és mulher difícil pois precisei de seis meses para te levar para a cama, piada de brincar com o fogo. Mas não há cá Milas Kunis e, se alguma vez falámos seriamente dessa hipótese, foi só para consentirmos que o risco do futuro não chegaria para compensar a excitação do momento. E, porém, há o cabelo e tudo o que se dá. Tu dirias que muitos queriam ter mas era meu e deus sabe que poucas coisas prendem tanto como a ilusão de sermos especiais.

Para o que der e vier, existimos nós agora. E se existimos, é também por aquela escolha que um dia fizeste e que eu não estava preparada para aceitar na altura, por casmurrice ou desordem. Agradeço-te por me teres deixado à espera no aeroporto, naquela viagem que não chegámos a fazer juntas. Agradeço-te por sermos nós ainda hoje.

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