All good things are wild and free I

Quando chegaste eu sabia pouco disto. Talvez hoje tenha só ganho na ilusão de saber mais qualquer coisa, coisa pouca, talvez. Quando te peguei ao colo a primeira vez, não sei de quem foi o medo maior e vejo ainda o olhar assustado deles, não vá o menino cair. Nunca esperei ser eu, nunca fiz questão de ser eu, pessoa tão desprendida dos outros e tão pouco dada às naturais expressões dos afectos. Não era suposto. Se calhar estavam distraídos ou só sabiam da missa a metade, desconheço a razão. Chegaste-me por isso com a estranheza de tudo o que é novidade e com a mesma ansiedade de quem leva uma missão. Como foi que cresceste tanto desde o primeiro dia em que te vi?

Hoje fazes seis anos e eu encho-me de sentimentalismos sem entender como pôde o tempo ter passado tão rápido quando ainda ontem tu eras assim bebé, como tu dizes. Tens a melhor memória que conheço e os caracóis mais bonitos, o sorriso mais franco, livre de mal-entendidos e de tristezas, e a pele mais fofinha e só seguida de muito perto pela dela. Mas o que me lembro sempre de ti como preciosidade é o abraço, porque nunca ninguém me abraçou assim, porque eu nunca abracei ninguém assim, porque são sempre poucos os abraços que damos. Um abraço que é livre e descomprometido, que não tem obrigação nem intenção, que não é reacção mas só uma vontade muito grande de dizer que gostamos um do outro. Dentre as coisas de que me envaideço, encontro sempre o teu abraço, meu principezinho das pestanas mais bonitas. Se precisares de crescer, admito que deixes de rir às minhas caretas e de me chamar para fazer puzzles ou ver desenhos animados contigo, mas que se conserve o teu abraço.

Hoje fazes seis anos e penso que és muito mais do que aquilo que alguma vez esperei de ti, mais pelo meu fraco conhecimento destas coisas do que por ser pouca a tua competência. Quero-te mais bem do que eu saberia ser possível até aqui. Para ti, está a vida toda à disposição como quem espera, o amanhã repleto de caminhos, decisões, aventuras e desventuras, tristezas e alegrias. Mas não te darei conselhos, se deles está o mundo cheio e com tão pouca valia. A ti, dou-te o amor certo que se guarda para cada abraço, enquanto crescemos juntos.

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