É oficial: as Quartas são o meu dia.

Não sei quantas vezes fecho os olhos a desejar com força que sejas feliz. Ignoro quantas vezes digo o teu nome no intervalo que vai entre uma inspiração e uma expiração. Não consigo distinguir com nitidez onde começa e acaba a minha vontade de ti, o que é da memória e o que é da verdade, o que sinto do que sei por certo. Deixei de contar as vezes em que obedeci ao bom senso de calar o evidente e enlouqueço pela facilidade com que me acendes os instintos mais remotos e secretos. Se realmente não houver nada depois da felicidade, como disseste, que me seja permitido demorar-me contigo nesta rota de colisão. Seja da felicidade ou da morte, que aguentemos pois só saberemos quando lá chegarmos.  

Para já, que a vida seja um entusiasmo e que todos os caminhos sejam de ir e de voltar, estradas que cruzamos sem saber para onde ou porquê, quando e em que companhia, que começam agora e acabam mais adiante, mas sempre outras e sempre de inesgotáveis curvas, inesperados encontros e reencontros, partidas e abandonos. Nunca uma recta, nunca singular, nunca conhecido, nunca de ser nunca. Para já, que a vida seja esta corrente e eu vá nela. Que, eventualmente, sobrevivamos ao mar, eu e tu.

Porque não quero voltar a sítio nenhum, reviver nada, reparar ou compensar nenhuma falha, nenhuma ausência nem nenhum egoísmo. Não quero firmar esperanças ou arriscar o coração. Não quero perder este medo que me prende saudades. Ambiciono apenas a um engano. Por uma vez, enganar o destino, a natureza, poder enganar a todos. Sair por aí, por exemplo, dizendo pelas ruas que te esqueci.

(está aí a feira do livro, faz chuva na noruega e, fosse eu boa com datas, diria que houve um dia cheio de exactidão em que descobri que o esparguete come-se de colher e que existe no mundo uma mulher de olhos límpidos.)

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