O problema é quase uma solução.

Se teimarem que o tempo passa à mesma velocidade em todas as companhias e independente do espaço, terei de teimar ainda mais fortemente sobre esse engano. A perfeição dos dias de sol não se pode ter dado há apenas um par de semanas, como conta o calendário. A distância que vai desta terra à minha é seguramente maior do que aquela que se ouve anunciar nas badaladas do relógio. Não me mintam, então.

Einstein entendeu em boa hora que o tempo é relativo, que o passado e o futuro caminham sempre à nossa frente e de mão dada, envoltos em promíscuas relações de sentido pouco claro, não se sabe já onde começa um e acaba o outro, que destino os uniu e que conspiração antecipam. Vão juntos e não se coíbem de troçar do presente, que segue ingénuo e a tropeçar nos seus próprios planos, qual idiota.

Não há uma linha que separa o antes e o depois do dia de hoje, não há para trás e para diante ou sequer uma superfície plana e firme a que nos possamos agarrar. Não somos um ponto em andamento. Avançamos no escuro, cegos e a tactear o mundo, num círculo que é este eterno retorno onde te encontro sempre a ti. Seduzo a palavra e rendo-me à evidência: tenho saudades. Sou feita de sonhos e de saudades.

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