Darling, there will never be another ('cause I love you so).

Foi há 31 anos. Eu não estava lá mas existem provas e, para o bem e para o mal, tendo a acreditar no que me dizem. Olhando a fotografia, é perceptível que 31 anos já foi há muito tempo. Olho aquela fotografia e procuro encontrar as semelhanças que outros dizem encontrar. Se a fotografia tivesse a noção de movimento seria mais fácil. Assim distingo pouco, talvez esteja no modo de sorrir, não sei bem. Na estaticidade do momento não ficou capturado o modo como coloca as mãos quando está a pensar na vida, nem como parece ter as sobrancelhas sempre franzidas, ou como o rosto antecipa uma piada antiga e sempre a mesma. Não está lá nada disso, mas dizem os registos que foi há coisa de trinta anos que comecei a tornar-me parecida com o meu pai, quase um ano depois desta fotografia.

Nesta fotografia, estão dois jovens que parecem, de facto, jovens, ainda que quase uma década os separe. E bonitos. Depois, é sempre difícil dizer só pela fotografia, mas poderia jurar-se que têm sonhos e uma vontade grande de se fazerem à vida. Ele tem um sorriso aberto de mostrar os dentes e, se não nos decepcionámos ainda e continuamos assumindo que os sorrisos são coisa de fiar, uma alegria genuína. Nota-se que tem pressa, porém. Tudo muito bonito mas melhor seria ir já para a casa nova e dar uso ao que é agora de marido e mulher. Ela é ainda mais jovem, menina-mulher, a mais bonita da aldeia e a mais cobiçada também. Conheceram-se num baile de verão, num tempo em que era moda as raparigas trocarem uma dança por uma flor. Talvez o sorriso meio envergonhado que ela traz agora na fotografia tenha sido aquele mesmo que o conquistou a ele, mas disso já não há prova fotográfica. Presumamos então que sim.

Foi há 31 anos e parecem felizes.

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