Mais um dia de noite.

Desprezo-as na mesma medida em que as amo, como sempre acontece com tudo o que é visceral. Não porque sejam de facto boas mas porque saíram de mim, levam ainda os restos do corpo ensaguentado e um cheiro novo a vida. São o meu mal necessário e todo o bem que não soube fazer, por inaptidão ou cansaço. Tudo o que tive de fazer e tudo o que preferia mil vezes não ter feito. Respeito-as simplesmente porque se criaram na dor, como se deve respeitar quem consegue encontrar amor nos sítios mais terríveis. Deveria tê-las deitado ao fogo para que os sentimentos ardessem com elas, como ela dizia. Tudo é uma lotaria tão inesperada, porém, e nenhuma daquelas palavras me pertence mais do que a ti. Há tantos futuros, tantos caminhos e nós sabemos tão pouco, quase nada. Resgato-as por isso agora para as abandonar com mais afinco. Que sejam livres e me deixem em paz. Porque eu já não preciso de palavras se o que espero é um gesto.

(um gesto que valha 5 euros + portes, por exemplo)

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