Não temos tempo de temer a morte.

Era o tipo de pessoa que não conseguia fechar a vida no peito e dormir descansada. Acreditava que assim a sufocaria. Acima de tudo, acreditava que a vida era coisa de ter livre e indomável e que qualquer forma de cativeiro seria por isso uma ofensa da maior crítica, uma espécie de acto contra-natura. A vida era para levar no desequilíbrio do mundo, no arriscado das mãos, cheia até cima. Ela via pessoas a levarem copos de imperial assim, até cima, e espantava-se sempre com aquela dinâmica, inexplicável até à gravidade. Maiores as pressas, maiores os tombos, e, se fossem levados com a convicção do inabalável, o olhar no longínquo do horizonte e a mesma confiança nas mãos, nunca entornariam. Ela era o tipo de pessoa que olhava para a vida como uma imperial. Que viesse cheia até cima e do nada ter-lhe às mãos. Que fosse coisa de molhar, coisa de sentir pelo corpo. E, se lhe acontecesse a ela molhar-se, que fosse coisa de fazer rir, a mesma leveza de uma imperial, porque ela não tinha tempo de temer a morte.

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