Cada um recebe aquilo que consegue aguentar.

Escrevi um texto longo sobre o quanto é longe voltar atrás, sobre não podermos julgar o passado à luz do que sabemos hoje, como me ensinaste, e sobre os momentos de fragilidade em que nos permitimos brevemente ser humanos. Era um texto repleto aqui e ali de coisas profundas, e de hesitações e admirações que ainda poderíamos ou não ir a tempo de entender. Depois apaguei tudo. O lugar da intimidade não é aqui, tu estás-te a cagar para a admiração dos outros e, há muito que deixámos de consentir entre nós qualquer sentimentalismo que não se pudesse dizer num silêncio ou num olhar.

Foste tu quem disse que cada um recebe aquilo que consegue aguentar, não esqueço. Mas há dias. Regresso por isso ao início, onde é ainda possível encontrar o essencial intacto, o puro que perdura. Por ser essencial, persiste intacto. Por estar intacto, existe para ti. Sempre que o caminho não te ampare, sempre que te desvies ou percas, que saibas que há algo essencial, intacto, aqui. 

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