Estão na cama. Ela está aninhada nele, a cabeça pousada no seu peito, os olhos cerrados pela preguiça da manhã, ainda mal habituada às cores do dia. Dorme como quem dormisse na mais confortável cama do mundo. Ele, meio sentado, tem uma mão atrás da cabeça, a outra agarra o cigarro, que leva à boca com gosto. Olha em frente, mas para lado nenhum. Poderia dizer-se que leva a lentidão extenuante que vem depois do sexo. Sorri, como quem inesperadamente encontrou num dia frio o calor dum sol de inverno.
À mesa da cabeceira têm tudo o que lhes coube por sorte no mundo, três ou quatro sacos de plástico mal cheios. Pertencem àquela rara raça de pessoas que ficam felizes por pouco. E seria este o cenário mais normal, não fossem estas pessoas fazerem daquele canto casa, debaixo da cobertura duma das lojas da moda, numa das ruas mais movimentadas duma das cidades mais cosmopolita do mundo. Estranhos invadem a sua privacidade todos os dias, sujam-lhes o chão, olham-lhes nos olhos ainda por lavar e no cabelo despenteado. E eles despreocupados, espreguiçam-se, sorrindo.
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