O caos é uma ordem por decifrar.

Talvez seja de facto o ângulo o princípio diferenciador, nós vemos a vida do lado de fora e eles vêem-na do lado de dentro. Dizemos que são diferentes, desadequados a este mundo, desligados da realidade, apartados da razão. Aceitamos o contínuo do espaço e do tempo, absurdos teóricos e transcendentes, astros mil em deriva pelo negro dos universos, mas só nos dignamos aceitar uma razão e que seja a nossa, uma realidade e que seja a que vemos. A sua sem-razão é animal, a sua inquietação perturbante, cão, latido, ganido, ladrar, morder, calcanhares, carne, sangue, deus, morte. Há uma porta sempre aberta por onde entram e saem sem que pertençam a lugar algum. A loucura é uma porta sempre aberta que só fica bem aos poetas e aos bêbedos. Há uma realidade por detrás da realidade, um sentido por detrás dos sentidos, uma história por detrás de cada história, gritos por detrás dos gritos. A verdade não existe indiscutível e petrificada. A verdade está sempre por detrás da verdade. Chamamos-lhes loucos e eles riem-se na nossa cara.

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