Foi uma cena de aeroporto, como faria sentido ser. Todos os aeroportos são lugares de verdade. Se alguém se dignasse ir a um a esta hora da tarde, seria difícil encontrar uma mentira que fosse. Nos aeroportos só há verdade. A cada partida e a cada chegada, a sua verdade. Ele, quase alcançando a sua, desiste então. O último minuto, sempre o decisivo, e ele desiste. É verdade que nunca sabemos qual o momento que nos mudaria a vida, podemos passar-lhe ao lado e continuar toda a vida ignorantes, a culpar uma infelicidade que não soubemos decifrar a tempo, a porta que, distraídos, não vimos, a estrada que o medo não desviou.
São então os olhos que se baixam e a voz, ainda mais baixa, é agora quase envergonhada. Acabou. Acabou-se. Foi demasiado lento, demasiado tarde. Não é por não ter dito as palavras que ele queria ouvir que ela disse as palavras que ele não queria ouvir, mas uma pessoa depreende, imagina, teme e sucumbe, porque nem mesmo um sim chega para ser um sim e um não para ser um não, quanto mais todas as outras palavras, o que se diz no que não se diz, o que não se diz, dizendo. Há uma distância inarrável que vai de mim a ti, daquele homem àquela mulher, e de nós àquela pessoa. Cada um é apenas uma margem. Não sabemos por isso o que se passou subitamente na sua mente, ainda que se escute uma triste música de fundo a ocupar o espaço.
Dizem que a força não está no número de golpes que se desfere mas no número de golpes que se aguenta. Dizem que não é possível medir forças com a vida e que por isso não é como a atacas mas como lhe resistes. Foi este o final e as razões persistirão insondáveis. Se foi medo da rejeição ou cansaço, não sabemos. Se foi aceitação ou liberdade, o seu gesto mais cobarde ou o seu gesto mais altruísta, são estas, ainda assim, nada mais do que suspeitas. No final do episódio, a cena do aeroporto, aquele era apenas um homem triste e eu apenas alguém com esperança.
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